Hugo Mãe entrou sábado à noite na livraria Ler Devagar, em Lisboa, com
39 anos. Saiu com 40. Pelo meio, os amigos dos livros, da música e do
Brasil elogiaram-lhe por antecipação “O filho de mil homens”, o seu
quinto romance, o primeiro em que deixa de assinar como valter hugo mãe e
aquele em que procura “outras formas de dizer”, como resumirá após uma
hora de apresentação ao lado de um par improvável, Mário Soares, e outra
ininterrupta de autógrafos.
Há dois meses, o escritor estava nas
primeiras páginas dos jornais brasileiros pela comoção inesperada com
que foi recebido na FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty.
Ontem, não houve quem chorasse ao ouvir Hugo Mãe, mas uma “coincidência
maravilhosa” permitiu que o Brasil voltasse a encontrar-se com o autor
português.
Zuenir Ventura, jornalista e escritor brasileiro, e
Luís Fernando Veríssimo, escritor e cronista, estavam por estes dias de
visita aos Açores. Em Lisboa, onde assistiram à apresentação do novo
romance do escritor, reencontraram o autor que provocou “um choque
cultural muito grande e um dos maiores acontecimentos” da FLIP, como
recorda Ventura.
Os dois vieram para ouvir Valter Hugo Mãe falar
de Crisóstomo, um homem “quase irreal” que descobre aos 40 anos que quer
ter um filho e por quem o autor lutou até ao fim da narrativa para que
se tornasse feliz. “A sua biografia não coincide com a minha. O
Crisóstomo não sou eu, é o que eu gostaria de ser”, explicou sobre a
personagem principal de “O filho de mil homens”.
Este é o romance
em que Valter Hugo Lemos – o homem – deixou de ser valter hugo mãe para
passar a ser Valter Hugo Mãe, o homem, o músico, o artista, o escritor.
Depois de “a máquina de fazer espanhóis”, que lançou no ano passado,
nesta obra pôde terminar um ciclo e “repensar aquilo que é possível
repensar e procurar outras formas de dizer”, como explicou em conversa
com o PÚBLICO após a sessão de lançamento. Deixar de assinar e escrever
apenas com minúsculas – uma das suas imagens literárias – é também uma
forma de não ficar preso a “uma receita qualquer”.
Pedro Crisóstomo in Público
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